O Papel do Negro no Desenvolvimento de Três Lagoas: Reflexão do Professor José Bento de Arruda

Nesta quarta-feira (20), o Brasil celebra pela primeira vez o Feriado do Dia da Consciência Negra. Para homenagear esta data, convidamos o conhecido e respeitado Professor José Bento de Arruda, para uma REFLEXÃO.

Veja o texto.

Dia 20 de novembro, comemora-se o Dia da Consciência Negra, a data foi oficializada através de lei em 2011. Mas temos que ressaltar que na metade da década de 70, por mobilização dos movimentos sociais a data já vinha sendo lembrada como dia de reflexão e luta contra a discriminação racial no Brasil.

A data tem significado importante para a comunidade negra, neste dia foi identificada como registro da morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais lideres do movimento de resistência à escravidão no Brasil.

Segundo dados de 2022 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pela primeira vez desde 1991, 45,3% dos brasileiros se declararam pardos e 10,2% negros. Este fato não representa apenas números, ele traz contornos interessantes, ao assumir sua identidade étnico-racial que é predominantemente composto por bardos e pretos, os brasileiros avançam na busca de uma sociedade inclusiva.

Em Três Lagoas a maioria da população é composta por pardos e pretos, vale ressaltar que a comunidade preta sempre teve papel relevante no desenvolvimento da nossa cidade.

No início do Século IXX, com a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, vários migrantes chegaram para trabalhar na obra, muitos deles vindos dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Pulo.

Uma parte considerável destes trabalhadores eram constituídos por negros, que aqui se estabeleceram com suas famílias, essas famílias na sua maioria se agruparam em uma região da cidade que foi denominada de formigueiro. Onde nos finais de semana, feriados e datas comemorativas eles se reuniam em confraria para passar momentos agradáveis, com suas culinárias próprias, suas músicas.

Desta forma contribuíram com a manutenção da cultura afro-brasileira e consequentemente contribuíram com o desenvolvimento da cidade que nascia na região leste do então Estado de Mato Groso, hoje nosso querido Estado de Mato Grosso do Sul.

Ao longo dos tempos a comunidade negra de Três Lagoas passou a interferir em vários setores da cidade, no esporte protagonizou a formação de grandes nomes, como: Zequinha Barbosa, campeão mundial de atletismo nos 800m; Ruth Souza, campeã mundial de Basquete, entre tantos outros que se destacaram e se destacam a nível nacional e mundial.

Na cultura a contribuição foi e é formidável, na área musical vários foram nossos destaques, como: Pé de Pato, Taia e muitos outros artistas, músicos, compositores e atores.

O samba foi o carro chefe, este gênero musical teve forte influência dos migrantes oriundos do Rio de Janeiro, as Escolas de Samba são exemplos vivos, como também os diversos grupos de pagode que temos até os dias atuais.

Na política os negros sempre tiveram um papel importante em Três Lagoas, são diversas lideranças negras que ocuparam e ocupam posições relevantes no espaço político. O empresário José Lopes (in momoriam), que foi chefe do executivo municipal nos anos de 1982 a 1995.

Outras lideranças importantes ocuparam cargos e funções relevantes tanto no executivo municipal, como também no legislativo, podemos citar nesta legislatura o professor Negu Breno e na legislatura que iniciará no próximo ano o professor Pedrinho Junior, filho de um grande esportista da nossa cidade, que ao longo dos tempos contribuiu com a formação de vários atletas na modalidade de futebol e futsal.

Mas, ainda precisamos trabalhar para a inclusão de mais pessoas negras em posições relevantes no mercado de trabalho, isto será alcançado se conseguirmos fazer uma verdadeira revolução no campo educacional. Quando conseguirmos fazer a paridade do número de pessoas autodeclaradas negras e pardas, na mesma proporção de pessoas que tenham acesso ao curso superior.

Na atualidade, somente 18% dos negros tem acesso ao curso superior, enquanto 36% dos autodeclarados brancos conseguem acessar esta fase de Ensino. Portanto apesar dos avanços conseguidos aos longos dos anos, muito ainda temos que fazer para garantir a igualdade de acesso e permanência do negro à formação digna.

Trabalhar com a equidade é o melhor caminho para enfrentarmos estes desafios. Liberdade ainda que tardia, continuamos a conjugar o verbo esperançar!

Imagem de arquivo: Professor José Bento em entrevista ao Jornalista Cláudio César

PROFESSOR JOSÉ BENTO DE ARRUDA – Natural de Corumbá (MS), é formado em Educação Física, mas se notabilizou em Três Lagoas em cargos de gestão na área da educação, seja como presidente do Sinted (Sindicato dos Trabalhadores em educação) ou Secretário Municipal de Educação e, principalmente em escolas, com destaque na direção da Escola Estadual Bom Jesus, onde deixou um legado positivo para toda a comunidade. É conhecedor como poucas pessoas da realidade brasileira e se destaca em movimentos sociais. Atualmente está cargo de Presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Negro de Três Lagoas.

Professor José Bento é nome sempre lembrado para  comandar a gestão da pasta da educação, seja a nível municipal ou estadual.

 

 

 

 

 

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